Quando nascem, os nossos bebés trazem consigo a expectativa de continuidade, não de separação. Nascem com a expectativa de contacto, movimento, segurança, alimento, tudo isto quase de forma contínua, como acontecia dentro do útero.
Após o nascimento, e nas primeiras semanas, este é o tempo da máxima necessidade do bebé. Sozinho, ele não sobreviveria, e não estamos a falar apenas de segurança e alimento. Falo da necessidade de regulação.
Por vezes, atordoados por uma realidade tão diferente daquela que tinham no útero, os nossos bebés pedem‑nos ajuda: muitas vezes para poderem voltar a um estado de regulação que lhes permita adormecer, alimentarem‑se ou até ficarem acordados, mas tranquilos.
Os braços da mãe, ou do adulto cuidador, são a almofada entre o bebé e o mundo. São o que lhe permite fazer esta transição, sem que ela seja demasiado hostil. A mãe e o pai apresentam o mundo ao bebé lentamente e fazem‑no na segurança do seu aconchego.
Quando o bebé nasce, este é o trabalho mais importante que podem ter. Mas alimentar, cuidar e acalmar um bebé recém nascido é também um trabalho muitas vezes ainda mais exaustivo do que esperávamos.
É por isso que temos de olhar para o pós parto também como o tempo da máxima necessidade da mãe (e do pai), embora não pelos mesmos motivos do bebé.
No primeiro trimestre passará muito tempo com o seu bebé em braços.
A alimentá‑lo, a embalá‑lo, a acalmar o seu choro. Não, não está a fazer nada de errado ao dar colo ao seu bebé, pelo contrário. Mas será que estão preparados para dar um pouco de colo a vocês próprios?
Preparem o vosso pós parto ainda na Gravidez! Três dicas muito simples para cuidar de si neste período exigente:
Durma quando o bebé dormir: de dia e de noite. Até cerca das 8‑12 semanas, mas principalmente no primeiro mês e meio, o seu bebé vem ainda com um ritmo ultradiano, o que significa que poderá dormir de forma fraccionada, seja de dia ou de noite. A maturidade fisiológica ajudará a dar a regulação para o dia/noite ao seu bebé mas, no imediato, guardar as suas necessidades de sono contínuo só para a noite não é boa ideia. Durma também pequenas sestas ao longo do dia. Isto é fundamental para que possa estar, pelo menos, em igualdade de circunstâncias com o seu bebé.
Coma frequentemente. Não guarde a sua alimentação para os momentos das refeições principais. Poderá não conseguir faze‑las e, além da fome, é provável que sinta mais irritação, desespero e cansaço… tudo isto porque, simplesmente, está em jejum! O equilíbrio dos níveis de glicémia maternos é fundamental para que a mãe se sinta bem ao longo do dia. Tal como o seu bebé se alimenta frequentemente nas primeiras semanas,
também a mãe deverá faze‑lo, praticamente com a mesma frequência.
Não guarde as suas necessidades todas para o sono do seu bebé: Muitas mães desesperam porque o seu bebé só dorme 15 minutos de cada vez durante o dia e isto não lhes dá tempo para tomar um duche ou para comer. O equívoco começa em reservar todas as suas necessidades para quando o bebé dorme, porque em muitos bebés esse é precisamente o momento em que ele mais precisará da mãe por perto. Quase sempre os bebés dormirão bem mais do que os 15 minutos se estiverem com a mãe ao lado. Essa continuidade vem dos mecanismos de feedback do sono entre mãe e bebé que são reguladores e, inclusive, ensinam continuidade do sono ao seu bebé. As sestas conjuntas, lado a lado, permitem que mãe e bebé descansem. Por outro lado, se o sono do bebé está a ser um problema, o truque está em conseguir que a mãe possa comer e fazer as tarefas básicas para o seu bem‑estar, enquanto o bebé está acordado, para que possa então sair deste padrão de sono interrompido e trabalhar a continuidade.
Constança Cordeiro Ferreira extraído e adaptado de “O Livro de Magia das Mães” (Clube do Autor, edição 2024)
A gravidez e o exercício físico levantam sempre muitas questões. Inês Guimarães, fisioterapeuta especializada em Exercício na Gravidez e Pós Parto, regressa para desmistificar todas as dúvidas nesta fase tão importante na vida da mulher.
Para iniciar uma rotina de exercício na gravidez, é imprescindível não considerarmos as rotinas antecedentes a este momento. A partir da rotina de exercício que cada mulher praticava antes de engravidar, é criada uma nova com foco na gravidez e no seu bem-estar.
O primeiro passo para iniciar uma rotina de exercício na gravidez é confirmar com o seu médico se existe algum fator que a obrigue a ter cuidados especiais ou mesmo repouso numa fase inicial da gravidez e/ou verificar se o exercício é compatível com algumas alterações corporais naturais no primeiro trimestre como os enjoos, muito cansaço ou tonturas.
Nesta fase existem algumas adaptações a fazer para que o exercício seja seguro, confortável e agradável para a mãe:
– Se praticava um tipo de exercício intenso, com utilização de cargas e com impacto, como são exemplo a corrida, o crossfit, o treino localizado forte ou algum tipo de dança com saltos e movimentos rápidos, é necessário diminuir a intensidade, a velocidade e a carga aplicada.
– Se já praticava exercício com intensidade moderada, por exemplo, pilates, ioga, natação ou treino localizado leve, poderá ser possível manter essa rotina, pedindo ajuda aos profissionais que o acompanham para fazer as adaptações necessárias, sentindo e tendo consciência dos novos limites e necessidades do seu corpo.
– Se não estava a praticar exercício regular antes da gravidez, as recomendações para iniciar uma rotina de exercício são que o faça de forma acompanhada e específica para a mulher grávida.
Estas são recomendações gerais, que cada mulher deve adaptar a si, guiando-se sempre pela forma como se sente durante e depois de qualquer tipo de prática que escolha. Algumas mulheres sentem-se mais seguras em aguardar pelo segundo trimestre para praticar exercício.
Se for esse o caso, pode ir fazendo alguns alongamentos básicos e caminhadas ligeiras para se manter ativa enquanto os níveis de energia aumentam e as alterações iniciais estabilizam. Neste período, tem tempo para ir escolhendo o tipo de atividade e os profissionais que a podem acompanhar ao longo da gravidez.
Artigo por, Inês Guimarães, Fisioterapeuta no Centro do Bebé Lisboa (OF 6904).
Quando falamos da razão pela qual o stress nos faz adoecer e incide negativamente sobre o ciclo menstrual, temos que explicar o que entendemos por stress e como é que ele interage com todos os nossos órgãos e sistemas. Prepara um cházinho e senta-te confortavelmente porque vamos começar pelo sistema nervoso.
Preparada?
Portanto, o sistema nervoso autónomo é assim chamado porque em teoria funciona por si só (na verdade, isto é uma simplificação, mas adiante). Regula as funções das vísceras e órgãos sem precisar de ser comandado, ao contrário, por exemplo, do sistema nervoso periférico com nervos que inervam os músculos para os fazer mover e sentir.
Assim, o ritmo cardíaco, o funcionamento do sistema digestivo e respiratório, etc, são todos regulados pelo sistema nervoso autónomo. Que por conveniência é classificado em 2 ramos: simpático e parassimpático. Estes termos não tem nada a ver com “simpatia” no sentido comum.
O ramo simpático mantém a tonicidade do corpo necessária para evitar que se torne numa gelatina, pelo que precisamos dele para nos movermos e agirmos, e é o protagonista principal em reações de luta ou fuga. Ou seja, quando confrontado com perigo ou um estímulo aversivo de qualquer tipo, o ramo simpático do sistema nervoso desencadeia reacções em que ou nos defendemos ativamente ou então fugimos, e obviamente isto implica uma série de alterações às funções viscerais normais: aumento do ritmo cardíaco, dilatação da pupila, contracção dos músculos, subida da adrenalina, diminuição da dor física, aumento da função imunitária, etc.
O parassimpático, por outro lado, rege principalmente as funções do corpo em repouso, ou seja, digestão, excreção, sono, reprodução.
Então é evidente que não é preto e branco, e que os dois ramos estão sempre em sinergia. Por exemplo, no sexo, ambos estão em função: é necessária uma tonicidade corporal suficiente, e são necessárias reacções de activação simpáticas (aumento do batimento cardíaco, etc.) mas também é necessária uma sensação suficiente de segurança e relaxamento para se poder avançar.
Dito isto, toda a nossa fisiologia funciona desta forma, com activação/relaxamento em constante fluxo e (idealmente) harmonia.
Mas o que acontece se, por exemplo, houver um acontecimento traumático na nossa vida, ou mais de um? Com o termo “acontecimento traumático” podemos não nos referir exclusivamente a episódios concretos e agudos (como um episódio violento ou um acidente) mas também a situações crónicas como por exemplo o padrão emocional da nossa família. O corpo não compreende nada sobre a modernidade. O corpo não sabe o que é uma família, ou um emprego, ou um carro, ou uma casa, ou contas a pagar. Compreende apenas um conceito: sobrevivência. No máximo, sobrevivência e reprodução. Mas a reprodução, como diz o biólogo Salpolski, é uma “actividade optimista” que só nos podemos permitir se a sobrevivência não estiver em questão. E o que é que regula a nossa reprodução enquanto mulheres? O ciclo menstrual! Assim, qualquer estímulo adverso é interpretado à luz deste prisma: é uma ameaça à sobrevivência e deve ser tratado como tal. Na sua essência, todos os seres vivos estão sujeitos a acontecimentos traumáticos. E nem todos esses eventos deixam a pessoa psicologicamente disfuncional, porque temos numerosos mecanismos de protecção. Nos animais, a energia traumática é imediatamente descarregada fisicamente: as gazelas voltam a trotar calmamente depois de fugirem de uma perseguição, porque imediatamente a seguir têm reacções de descarga, que são amplamente observadas pelos etologistas.
Nós humanos, nem sempre (na verdade quase nunca), descarregamos. Preferimos nos dissociar, fragmentando a experiência em várias peças que podemos varrer para debaixo do tapete, e continuamos. Debaixo do tapete significa dentro do corpo. É o corpo que transporta toda a energia traumática até encontrar uma forma de a descarregar, mas é uma tarefa muito difícil porque há muito que perdemos a capacidade de sentir as emoções. Quando chega uma emoção, em vez de nos limitarmos a sentir o corpo (coração assim, estômago assado, isto treme, isto dói) e deixá-lo fazer o seu trabalho, começamos a pensar (“a minha vida é um fracasso”, “oh meu Deus o que é que fiz”, etc.). Pensamos as emoções em vez de as sentirmos. E o corpo não tem forma de falar, porque muitas das coisas de que gostaria de se livrar não pertencem a memórias conscientes, mas a memórias de fases pré-verbais das nossas vidas, são memórias não declarativas, puramente somáticas, que são empilhadas em cima de memórias mais recentes, de eventos traumáticos recordados, e muito mais. Por vezes faz isto através de sintomas e doenças, o que é um pouco como vapor a escapar da válvula da panela de pressão.
Para além da dissociação, também trazemos frequentemente padrões de congelamento. De facto, o congelamento é a terceira via, após a luta ou fuga. Morte aparente em animais, colapso, imobilidade tónica. O terror paralisa-nos e de um pico de activação simpática mergulhamos na parassimpática total, entrando em colapso e preparando-nos para uma morte sem dor. Mais uma vez, isto acontece frequentemente a outros níveis, e não apenas a ameaças físicas, por isso, por exemplo, congelamos num ambiente familiar disfuncional ou noutras situações até não-fisicamente perigosas.
Assim, voltando ao fluxo alternado saudável simpático/parassimpático, quando a energia traumática não é descarregada (e isto é muito comum), este fluxo é perturbado e fica “preso” quer na activação simpática (tensão muscular, hipervigilância crónica, prontidão para lutar ou fugir do contexto, até chegar aos extremos do stress pós-traumático que vemos nos filmes sobre veteranos de guerra, por exemplo), ou no congelamento, que pode ser ou tensão permanente (músculos em corda, tendencia à prontidão) ou colapso (postura corporal de derrota, pouca energia física). Mas não são alternativas mutuamente exclusivas, pelo contrário, são frequentemente misturadas, vivendo juntas, ou alternando de uma forma que não é suave, mas abrupta, irregular.
Qualquer que seja a fase em que estejamos “presas”, o simples facto de estarmos presas, mata-nos lentamente. Mesmo o congelamento num estado de tensão latente, ou em colapso, ou viver permanentemente dissociadas do corpo, são formas de morrer no interior como forma de defesa contra esses sentimentos oceânicos que não somos capazes de conter.
Como referia há pouco, o corpo interpreta todos estes sinais como ameaça direta à vida. Todos os nossos recursos orgânicos são então destinados à sobrevivência, à custa de funções “acessórias” típicas do parassimpático, como por exemplo a reprodução (e o sono, e a digestão, já agora). E portanto, é como se houvesse uma decisão central, tomada provavelmente pelo hipotálamo, o “big boss” do eixo hormonal, de fechar o sistema. Anulando a ovulação, ou tornando-a mais difícil. Porque em contexto de sobrevivência, na lógica do corpo, há que eliminar ou reduzir as hipóteses de engravidar! Outro mecanismo de reduzir estas hipóteses, é o de anular a nossa libido!
Tudo o que escrevi até aqui é apenas um dos mecanismos pelos quais o stress nos pode afetar gravemente a saúde menstrual, e não só menstrual.
Que fazer então? É essencial procurar ajuda de psicoterapeutas competentes que nos possam ajudar e orientar. Possivelmente que tenham abordagens somáticas e não exclusivamente cognitivas: é muito bom perceber de onde vem os nossos bloqueios e os nossos traumas, mas pensar não é suficiente. Temos que deixar o corpo livrar-se daquilo que anseia descarregar. Mas não subestimar a importância de tomar conta da nossa dimensão de conforto e bem-estar físico. Por exemplo, cuidar da nossa nutrição tem um impacto enorme na dimensão emocional. Uma glicemia desregulada, um padrão alimentar errático, falta de micronutrientes, são todos ingredientes clássicos que contribuem a perpetuar o ciclo do stress.
A hipervigilância salva as nossas vidas em certos contextos. Mas quando a vida não está em risco imediato, manter um padrão de hipervigilância crónica implica um desgaste metabólico muito elevado que, a longo prazo, nos consome, em vez de nos salvar.
Qualquer que seja a fase em que estejamos “presas”, o simples facto de estarmos presas, mata-nos lentamente. Mesmo o congelamento num estado de tensão latente, ou em colapso, ou viver permanentemente dissociadas do corpo, são formas de morrer no interior como forma de defesa contra esses sentimentos oceânicos que não somos capazes de conter.
Como referia há pouco, o corpo interpreta todos estes sinais como ameaça direta à vida. Todos os nossos recursos orgânicos são então destinados à sobrevivência, à custa de funções “acessórias” típicas do parassimpático, como por exemplo a reprodução (e o sono, e a digestão, já agora). E portanto, é como se houvesse uma decisão central, tomada provavelmente pelo hipotálamo, o “big boss” do eixo hormonal, de fechar o sistema. Anulando a ovulação, ou tornando-a mais difícil. Porque em contexto de sobrevivência, na lógica do corpo, há que eliminar ou reduzir as hipóteses de engravidar! Outro mecanismo de reduzir estas hipóteses, é o de anular a nossa libido!
Tudo o que escrevi até aqui é apenas um dos mecanismos pelos quais o stress nos pode afetar gravemente a saúde menstrual, e não só menstrual.
Que fazer então? É essencial procurar ajuda de psicoterapeutas competentes que nos possam ajudar e orientar. Possivelmente que tenham abordagens somáticas e não exclusivamente cognitivas: é muito bom perceber de onde vem os nossos bloqueios e os nossos traumas, mas pensar não é suficiente. Temos que deixar o corpo livrar-se daquilo que anseia descarregar. Mas não subestimar a importância de tomar conta da nossa dimensão de conforto e bem-estar físico. Por exemplo, cuidar da nossa nutrição tem um impacto enorme na dimensão emocional. Uma glicemia desregulada, um padrão alimentar errático, falta de micronutrientes, são todos ingredientes clássicos que contribuem a perpetuar o ciclo do stress.
Portanto, amparar o emocional significa amparar também o somático. Infelizmente a nossa cultura de dualismo opositivo gosta de separar corpo e emoções, e isto faz que por um lado, a psicologia esqueça ou tenda a esquecer o papel da fisiologia, como se uma pessoa em terapia só existisse enquanto “psique” e não enquanto corpo. E por outro lado, faz que a medicina esqueça o papel da psicologia, e portanto seja ainda bastante cega perante o enorme peso das emoções na saúde.
Compete-nos a nós relembrar a nossa unidade inseparável e abordar qualquer processo de cura como algo completo e orgânico.
É psicólogo clínico, doutorado e especializado em questões de desenvolvimento infantil e vinculação, há mais de 20 anos. O Dr. Nuno Reis (OPP 12444) integra a equipa do Centro do Bebé desde 2016 e é uma peça fundamental para as centenas de famílias que o procuram para aconselhamento nas matérias do desenvolvimento, sono e comportamento dos seus bebés e crianças.
Trabalha em equipa directa com a terapeuta de bebés Constança Cordeiro Ferreira, na abordagem completa e complexa ao sono do bebé com o método pioneiro do Centro do Bebé. É também o responsável pela consulta de sono infantil no Centro do Bebé, onde aborda as questões de sono como manifestações indissociáveis do universo da criança.
Qual a importância de um sono saudável nos primeiros anos de vida?
Falar do sono será falar do ritmo biológico e dos estados de consciência do bebé. O sono terá uma importância tanto fisiológica, relacionada com o crescimento e com o desenvolvimento, como emocional, que diz respeito à autonomia, às relações com os pais e à possibilidade de sonhar.
Esta é uma questão que preocupa os pais… o que devem estes fazer?
Mãe e pai têm um papel incontornável na vida do bebé, onde o sono será “apenas” uma parte. O sono de um bebé ou criança não poderá ser o protagonista principal da sua vida, tornando-se uma obsessão dos pais ou fazendo-os sentir que serão pais menos competentes porque o seu filho não dorme. Os bons pais não serão os pais perfeitos mas sim aqueles que, sendo suficientemente bons, percebem que os seus bebés ou crianças, tal como os adultos, podem ter uma ou outra noite de insónia, que poderá querer dizer que a semana na escola foi mais agitada, que houve alguma coisa que se alterou na rotina, que os pais estiveram um pouco mais “distraídos”.
Então como se promove um sono tranquilo?
O sono de um bebé ou criança promover-se-á ao longo do dia, de modo que quando chega a noite estarão todos mais preparados e predispostos para dormir. “Dias felizes serão amigos de noites mais tranquilas”, é o que defendemos e sabemos ser verdade aqui no Centro do Bebé. Os pais contribuirão para a promoção do sono dos bebés sempre que perceberem as suas necessidades e adoptarem estratégias que vão ao encontro das mesmas.
No fundo sempre que utilizarem o seu sexto sentido ou a sua intuição e forem pais.
E qual é a verdadeira higiene do sono para bebés e crianças?
O sono está muito relacionado com os ritmos e rotinas próprios de cada bebé. Ao mesmo tempo, o sono será sensível a diferentes aspectos que vão desde a idade, fase de desenvolvimento e personalidade do bebé ou criança, ao que acontece no seu dia a dia e no da sua família ou à forma como esta reage às “insónias” do bebé.
Talvez seja adequado falar de higiene do sono, sempre que nos referimos ao respeito pelos ritmos e rotinas de cada bebé e de cada criança. Talvez seja adequado falar em higiene do sono sempre que o entendamos numa linha de continuidade e de progressiva autonomia. Os pais entendem e percebem esse processo, na alimentação, no desenvolvimento motor, na higiene propriamente dita e, também, no sono.
O que procuram os pais na Consulta do Sono no Centro do Bebé?
As famílias de crianças mais velhas (a partir dos 18 meses) procuram a consulta por dois motivos principais:
-despertares frequentes durante a noite que requerem a presença dos pais e que impedem um sono tranquilo;
-necessidade dos pais para adormecerem.
Na maioria das situações as rotinas estão definidas, às vezes podem é não ser as mais adequadas a um potenciar da parte fisiológica para o sono. E é preciso ter presente que poder dormir pressupõe segurança e autonomia. E estes são factores que não se “treinam” ou se podem obrigar a criança a ter, sem que esta esteja preparada. O nosso apoio é ajudar os pais a ajudar os filhos, promovendo neles segurança e autonomia com tempo e tranquilidade, de forma serena e experiente, mas sem lutas nem conflitos. A autonomia, a segurança e uma excelente relação com o sono… Essas sim são conquistas que ficarão para a vida.
Dormir é, por definição, abandonar o nosso estado de vigília. É aceitar, ainda que por momentos, separarmo-nos do consciente e entregarmo-nos ao inconsciente.
É no inconsciente que residem as nossas memórias mais ancestrais, as nossas experiências mais precoces, aquelas que ficaram ancoradas ao mais profundo das nossas memórias. Entregarmo-nos ao sono, fechar os olhos e aceitar dormir parece simples, embora não o seja assim tão simples na verdade.
Enquanto dormimos não é possível defendermo-nos e é por isso que quase sempre o sono é uma das primeiras funções fisiológicas a ressentir-se quando algo nos preocupa ou quando não estamos num ambiente que reconheçamos como seguro.
Para os nossos bebés o conceito de segurança é muito lato e ultrapassa aquilo que nós, adultos, tomamos por garantido. Não nos podemos esquecer que temos camadas e décadas de pensamento racional. Isto é alheio ao nosso bebé. O bebé é uma cria mamífera pequenina e a sua noção de segurança é diferente da nossa. E é também diferente para cada bebé.
Há muitos factores que podem interferir na maneira como o seu bebé aceita ou não dormir mas, tal como todos os mamíferos, o seu bebé não conseguirá dormir se não se sentir seguro, a não ser que adormeça por exaustão e isso – como todos os pais sabem- não é o princípio ideal para uma boa relação com o sono.
Não, nem tudo é uma questão de “rotinas” embora estas sejam importantes a partir de certa idade como estruturantes e securizantes. Mas as rotinas não explicam tudo. São só uma peça do complexo puzzle que é tantas vezes o sono de um bebé.
Mesmo que lhe tenham dito isto, a forma mais ou menos autónoma como o seu bebé adormece não é garantia de que vá dormir bem:
NÃO SE CULPE porque o seu bebé “não adormece sozinho”.
Quase todos os dias me chegam bebés que adormecem de forma bastante autónoma e ainda assim acordam a noite inteira e os pais procuram ajuda porque lhes disseram que tudo se resumia a adormecer sozinho no berço. E tantos bebés com quem trabalho que adormecem colados às mães ou pais e dormem depois até de forma bastante autónoma e contínua a seguir.
A autonomização do bebé para o sono é um fardo que se colocou em cima dos pais sob a falsa promessa de que um bebé autónomo na hora de dormir será sempre um bebé que dormirá bem. Isto NÃO é verdade em tantos casos. E tantas famílias vivem verdadeiros infernos para conseguir autonomizar um bebé que tantas vezes precisava de ser securizado, e não autonomizado.
É importante compreender que não é possível verdadeira autonomia sem segurança. E sentirmo-nos seguros é algo tão individual para cada um de nós, e ainda mais para os nossos bebés, que às vezes é mesmo preciso um verdadeiro trabalho de investigação.
O que precisa um bebé para se sentir seguro?
Esta resposta é diferente para cada bebé que me chega.
Na verdade cada bebé é um complexo universo individual.
É preciso pensar como um bebé para compreender um bebé.
E os pais tantas vezes já têm as respostas acertadas para o seu bebé. Estivessem eles libertos para escutar o seu coração.
O nosso ritmo biológico segue o sol, os ritmos de cada família e – acreditem!- considero maravilhoso ver reflectido no comportamento dos nossos bebés para o sono, a mudança natural das estações. O relógio é um mero pormenor e não deve ser o factor preferencial quando adequamos ao longo do dia factores como a hora de ir para a cama ou os nossos rituais anteriores ao sono.
Provavelmente os vossos bebés já vos estão a dar muitos sinais de que o seu sono está a adaptar-se a esta altura do ano e isto está a acontecer provavelmente desde Setembro, quando se deu o equinócio de Outono e os dias passaram a ter gradualmente cada vez noites maiores e menos horas de luz solar.
A mudança de horário vai ser só um acelerador artificial deste processo que já vem acontecendo. E a boa notícia é que – embora nós adultos não gostemos deste horário de inverno- a verdade é que a mudança de hora vai poder ser uma óptima boleia para estabilizar as noites dos vossos bebés.
Ou seja, nada de medos!
Lembrem-se apenas que quando é necessário ajustar rotinas, podemos olhar para o relógio, mas antes olhámos primeiro para o bebé… Só assim se ajustam adequadamente horários e ritmos de forma a favorecer o sono para cada bebé.
Então vamos lá a algumas dicas para vos ajudar por estes dias:
Hora de ir para a cama
O sol deita-se mais cedo nesta fase do ano e os bebés (e todos nós, na verdade!) também devemos fazê-lo. Provavelmente aí por casa já repararam que os vossos bebés estão mais birrentos e cansados ao final do dia, certo? Está mesmo na altura de começar a antecipar o início da noite. Comecem já hoje, entrando no quarto 20 a 30 minutos antes da hora habitual.Gerir o dia de mudança da hora:
Mais uma hora não deve ser desculpa para mais uma hora acordado!
Para os bebés que estão a ir para a cama tarde, já demasiado cansados e com choro, os pais devem mesmo aproveitar o dia em que muda a hora e estabelecer logo ali uma hora de deitar mais precoce.
Aproveitem para estar mais tempo nesse dia com mimo, festinhas, cantar e passar tempo com os vossos bebés sem terem a pressa de os adormecer a correr.
Sestas
A sesta mais longa do dia deve ser mais cedo neste horário de Inverno, idealmente favorecida no final da manhã (cerca das 12h00, na maioria dos casos). Bebes pequenos podem inicia-la até mais cedo ou fazer ainda um pequeno sono no meio da manhã, ainda antes desta sesta maior. Sestas longas a partir do meio da tarde podem ter interferência na hora de deitar sim! Se o bebé precisar de mais um ou outro soninho à tarde, não deve fazê-lo no escuro, nem em condições que favoreçam artificialmente a sua continuidade.
A partir das 19h00 neste horário já não são sestas… é mesmo o início da noite a manifestar-se!
Ar livre, sim!
A temperatura desce abaixo dos 20 graus e começa logo o medo colectivo do frio.
Bebés a passear e brincar na rua é obrigatório, principalmente no período da manhã. Eu sei que muitas creches não saem com o bebé para o exterior, ainda mais no horário de inverno (escreverei só sobre isto em breve) mas deviam fazê-lo! Vá lá, bebés agasalhados e expostos à luz natural, sem medos!
Tempo em família
Eu sei que os vossos bebés vão querer adormecer mais cedo, mas também sei que os horários de trabalho dos pais não mudaram, as filas de transito também não e a vida familiar fica muito mais apertada neste horário solar porque na verdade há menos tempo para tudo ????
É portanto tempo de simplificar as rotinas, tentar antecipar e simplificar ao máximo tarefas domésticas, refeições e afazeres que habitualmente concentramos no final do dia. Pensem em tudo aquilo que pode ser preparado antes e retirem essas tarefas da hora de ponta do final do dia.
Fazer uma prioridade do estar juntos, jantar juntos, menos rituais pré-sono e mais abraços, colo, miminhos, contacto físico e quase um “velcro” bom entre todos na recta final do dia, sem pressa de sair a correr do quarto onde dorme o bebé.
Assim.. mesmo adormecendo mais cedo, levamos mais experiências boas, alegria e tranquilidade na pele e no coração e isso, ACREDITEM!, faz milagres pelas nossas noites
PS: e não é só adormecer o bebé… Façam do vosso próprio sono uma prioridade!
Noites frias e escuras convidam a mais e mais profundas horas de sono!
Deitem-se cedo, portanto.
TODOS! ????