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Sentir-se seguro: o primeiro passo para o bebé dormir bem
cmgps | Dezembro 20, 2022
Dormir é, por definição, abandonar o nosso estado de vigília. É aceitar, ainda que por momentos, separarmo-nos do consciente e entregarmo-nos ao inconsciente.
É no inconsciente que residem as nossas memórias mais ancestrais, as nossas experiências mais precoces, aquelas que ficaram ancoradas ao mais profundo das nossas memórias. Entregarmo-nos ao sono, fechar os olhos e aceitar dormir parece simples, embora não o seja assim tão simples na verdade.
Enquanto dormimos não é possível defendermo-nos e é por isso que quase sempre o sono é uma das primeiras funções fisiológicas a ressentir-se quando algo nos preocupa ou quando não estamos num ambiente que reconheçamos como seguro.
Para os nossos bebés o conceito de segurança é muito lato e ultrapassa aquilo que nós, adultos, tomamos por garantido. Não nos podemos esquecer que temos camadas e décadas de pensamento racional. Isto é alheio ao nosso bebé. O bebé é uma cria mamífera pequenina e a sua noção de segurança é diferente da nossa. E é também diferente para cada bebé.
Há muitos factores que podem interferir na maneira como o seu bebé aceita ou não dormir mas, tal como todos os mamíferos, o seu bebé não conseguirá dormir se não se sentir seguro, a não ser que adormeça por exaustão e isso – como todos os pais sabem- não é o princípio ideal para uma boa relação com o sono.
Não, nem tudo é uma questão de “rotinas” embora estas sejam importantes a partir de certa idade como estruturantes e securizantes. Mas as rotinas não explicam tudo. São só uma peça do complexo puzzle que é tantas vezes o sono de um bebé.
Mesmo que lhe tenham dito isto, a forma mais ou menos autónoma como o seu bebé adormece não é garantia de que vá dormir bem:
NÃO SE CULPE porque o seu bebé “não adormece sozinho”.
Quase todos os dias me chegam bebés que adormecem de forma bastante autónoma e ainda assim acordam a noite inteira e os pais procuram ajuda porque lhes disseram que tudo se resumia a adormecer sozinho no berço. E tantos bebés com quem trabalho que adormecem colados às mães ou pais e dormem depois até de forma bastante autónoma e contínua a seguir.
A autonomização do bebé para o sono é um fardo que se colocou em cima dos pais sob a falsa promessa de que um bebé autónomo na hora de dormir será sempre um bebé que dormirá bem. Isto NÃO é verdade em tantos casos. E tantas famílias vivem verdadeiros infernos para conseguir autonomizar um bebé que tantas vezes precisava de ser securizado, e não autonomizado.
É importante compreender que não é possível verdadeira autonomia sem segurança. E sentirmo-nos seguros é algo tão individual para cada um de nós, e ainda mais para os nossos bebés, que às vezes é mesmo preciso um verdadeiro trabalho de investigação.
O que precisa um bebé para se sentir seguro?
Esta resposta é diferente para cada bebé que me chega.
Na verdade cada bebé é um complexo universo individual.
É preciso pensar como um bebé para compreender um bebé.
E os pais tantas vezes já têm as respostas acertadas para o seu bebé. Estivessem eles libertos para escutar o seu coração.
Voltaremos a falar sobre isto em breve.
Texto de Constança Cordeiro Ferreira